A 23 de Janeiro, Juan Guaidó, Presidente da Assembleia Nacional desde 5 de Janeiro, auto-proclamou-se Presidente Interino da Venezuela. Baseando-se no artigo 233º da Constituição, Guaidó justificou-o com a “ilegitimidade” da eleição de Maduro. Na realidade, as eleições de 20 de Maio de 2018, que elegeram Maduro como Presidente com 68% dos votos, foram consideradas por 150 observadores eleitorais internacionais como livres e transparentes. A abstenção de 54% deveu-se em grande parte ao apelo da oposição ao boicote e não está muito longe dos valores de outras eleições presidenciais, incluindo a que fez de Trump presidente dos EUA. Ainda assim comunicação social burguesa denuncia a “ditadura” na Venezuela! Uma “ditadura” que tolera um auto-proclamado presidente em liberdade, a dar entrevistas, a reunir-se com a reacção, a pedir aos Estados Unidos uma intervenção militar.

O que representa Guaidó?

Virtualmente desconhecido antes da auto-proclamação, Guaidó é deputado do Voluntad Popular, o partido mais violento da coligação de extrema-direita Mesa de la Unidad Democrática, responsável pelas guarimbas de 2014 e 2017 que resultaram em mais de 170 mortos e centenas de feridos, a maioria chavistas.

Esta oposição fala na “falta de democracia”, não no seu programa. Na verdade, defendem políticas neoliberais de cortes, privatizações, despedimentos em massa e repressão dos trabalhadores. Querem devolver milhões de trabalhadores às condições de vida miseráveis que tinham antes de Chávez e abrir a exploração dos recursos naturais à burguesia estado-unidense.

Posicionamento Internacional e Nacional

Guaidó foi rapidamente reconhecido por Trump e todos os governos reaccionários da América Latina, agrupados no Grupo de Lima e encabeçados por Duque, da Colômbia, e Bolsonaro, do Brasil, países fronteiriços da Venezuela. Vários governos da UE juntaram-se a Trump e Bolsonaro.

Em Portugal o governo PS, o PSD e o CDS apoiam Guaidó. Por outro lado, a direcção do PCP denuncia correctamente o papel jogado pelo imperialismo estado-unidense na crise venezuelana, mas apoia acriticamente a política de conciliação de classes de Maduro. A direcção do BE oscilou vergonhosamente entre repetir todas as mentiras da direita, pedindo uma intervenção internacional, e entre não tomar partido, mostrando o seu oportunismo. Esta “neutralidade” é um apoio ao imperialismo.

Um golpe imperialista

Ao promover o golpe, a burguesia estado-unidense quer, em primeiro lugar, pôr as mãos nos recursos naturais da Venezuela e impedir que outros o façam. Disputa a Venezuela com o imperialismo russo — que, através da empresa estatal de energia Rosneft, investiu 20.000 milhões de dólares no país desde 2006 — e chinês — cujas companhias estatais têm investido 2.500 milhões de dólares por ano desde 2010. Em segundo lugar, procura manter a hegemonia do petrodólar, em risco com o acordo de Março de 2018 que permite a venda de petróleo à China em yuans, e com a presidência da Venezuela à Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Por último, quer eliminar as conquistas dos trabalhadores e camponeses da Venezuela que inspiram trabalhadores no resto do continente. Numa altura em que uma nova recessão se aproxima e em que os trabalhadores e pobres se sublevam — desde o Haiti a França — para o capital imperialista é imperativo destruir qualquer esperança num novo mundo.

Socialismo é a solução!

Ao contrário do que é papagueado pelos lacaios da burguesia, a situação actual não é fruto do “falhanço do Socialismo”, mas sim de uma guerra económica decretada pela burguesia estado-unidense — que inclui sanções, manipulação de taxas de câmbio e destruição ou desvio de bens de consumo — e da política de conciliação de classes do Partido Socialista Unido de Venezuela.

Chávez nacionalizou a Petróleos de Venezuela e algumas outras empresas, mas manteve-as sob controlo burocrático do Estado e deixou a maior parte da economia nas mãos da burguesia nacional. Com a queda do preço do petróleo, começam os cortes nos serviços e investimento público. Maduro, perdendo cada vez mais apoio entre trabalhadores e camponeses, apoiou-se na burocracia estatal e no exército, através de cada vez maiores concessões. Acentuou-se assim o carácter bonapartista do seu governo. Estas medidas, além de contribuírem para aumentar a corrupção, não servem para garantir a lealdade da burocracia e do exército perante os subornos da burguesia estado-unidense.

A situação da Venezuela é uma lição: sem a expropriação da banca e dos grandes monopólios, sem o controlo dos sectores estratégicos pelos trabalhadores, em suma, com a revolução a meio, abre-se a porta à contra-revolução. Enquanto marxistas, combatemos a agressão imperialista, e por isso mesmo denunciamos as políticas de conciliação de classes e gestão burocrática da economia que desarmam a classe trabalhadora perante o golpe. O único modo de evitar uma tragédia é a nacionalização e planificação de toda a economia sob controlo das organizações de trabalhadores. A única saída é seguir em frente com a revolução!

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