A classe trabalhadora brasileira respira, com dificuldade, na pesada atmosfera em que vive. O cenário eleitoral continua incerto e a única coisa bem definida e visível é a contínua degradação das condições de vida da maioria do povo brasileiro. Os ataques aos trabalhadores, a repressão de que estes são alvo têm aumentado de intensidade e, com isto, também os movimentos de resistência, levando ao clima de elevada tensão social.

Clima de volatilidade

Tomemos o exemplo da greve dos camionistas enquanto barómetro da situação política: a greve não foi isenta de contradições próprias ao sector, estando envolvidos tanto representantes das grandes transportadoras como largas camadas de camionistas assalariados e “independentes” vivendo em condições miseráveis. Aqui o sector afecto às entidades patronais rapidamente entrou em negociações com o governo numa tentativa de controlar e abrandar o movimento, ao contrário do sector mais precário que efectivamente se continuou a mobilizar e a radicalizar.

Pode dizer-se que, de forma geral, a greve dos camionistas assumiu um papel positivo, fruto da legitimidade das suas exigências, do apoio popular e da progressividade que mostrava em chocar contra as políticas de Temer. Apesar das contradições de classe presentes no movimento, conseguiu transmitir a ideia de que sem os trabalhadores nada acontece.

Cenário Eleitoral

Acompanhando a tendência internacional espera-se que a burguesia nestas aposte num candidato neoliberal, capaz de ganhar as eleições e obter alguma legitimidade para continuar as contra-reformas que Temer já não consegue aplicar. Neste caso, o candidato ideal seria Alckmin, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira, neoliberal), mas o fraco resultado nas sondagens torna esta aposta frágil.

Alckmin, atraindo a direita tradicional, tem ainda que ultrapassar o obstáculo que a vinculação do PSDB ao governo Temer representa e lidar com a perda de uma parte do eleitorado para Bolsonaro.

Já Ciro Gomes, do PDT (Partido Democrático Trabalhista), apesar de disputar parte do eleitorado ao centro com Alckmin e de procurar alianças com o grande capital, é visto por uma grande parte da população como um crítico da direita e do golpe. Inclusive sectores do próprio PT (Partido dos Trabalhadores) colocam a hipótese de apoiar Ciro.

O PT manteve a candidatura Lula até que esta se tornou impossível, e apresentou então Fernando Haddad, que recentemente tem sido alvo de acusações de corrupção da parte do Ministério Público. O que retirou alguma força a esta opção do PT.

Eis os principais actores deste teatro eleitoral. Logicamente, não podemos descartar nenhum cenário. Com este ajuste de última hora ao candidato do PT a hipótese de uma vitória PT logo na primeira volta com Lula cai por terra. Assim, sem Lula, grande parte dos seus eleitores vêem-se sem opção clara de voto e podem acabar votando em qualquer candidato, as sondagens mais recentes mostram Bolsonaro na frente, seguido por Ciro Gomes e Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, deixando Alckmin em quarto lugar e Haddad logo de seguida. Com uma margem de erro de 2% estes quatro últimos candidatos encontram-se praticamente empatados.

Na hipótese, provável, de vencer um candidato à direita do PT veremos a continuação das contrarreformas de Temer, levando a uma maior polarização política da população. Vendo-se derrotado e sem Lula o PT perderá a pouca coesão que ainda lhe resta, o que pode abrir um maior espaço para uma esquerda combativa fora da linha do PT.

Mesmo na improvável hipótese de Haddad vencer numa eventual segunda volta, a política habitual do PT, que assenta na conciliação de classes e na dependência de via institucional, seria a estratégia escolhida. E se no passado tais políticas conseguiram algumas concessões da burguesia para a classe trabalhadora, na situação actual — que já não é de grande crescimento económico, mas antes de crise — tais concessões são impossíveis a não ser pela luta. De facto, os trabalhadores têm sofrido os golpes mais duros dos últimos tempos, e a “solução” PT tem contradições que também levariam ao agravamento da polarização política — com o possível crescimento da extrema-direita.

O certo é que estas eleições não vão fechar o ciclo de instabilidade, ataques e retrocessos e, consequentemente, de reorganização da esquerda.

Alternativa de Esquerda

O espaço para uma alternativa de esquerda existe e tem de ser aproveitado, a candidatura de Boulos e Guajajara cumpre esse papel, é a aliança entre o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), PCB (Partido Comunista Brasileiro), APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e outros tantos movimentos sociais.

Mais do que participar nas eleições, trata-se de uma aposta que vá além do processo eleitoral, é um voto na reconstrução de uma esquerda socialista com base nas massas e capaz de superar as políticas do PT.

Participamos e apoiamos esta campanha para apresentar uma firme alternativa de esquerda, usando todos os seus pontos fortes e potencial combativo para apresentar um programa anti-capitalista e socialista, e lutando para que a disputa eleitoral seja um processo de fortalecimento da esquerda, das organizações de trabalhadores e dos movimentos sociais.

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