A 18 de outubro mais de sete milhões de pessoas ocuparam as ruas de 2.700 cidades estado-unidenses em protesto contra a deriva autoritária e fascista do governo Trump: 350.000 em Nova Iorque, 300.000 em Chicago, 100.000 em Los Angeles e Boston, 70.000 em Seattle, 50.000 em São Francisco e Portland, bem como milhares e dezenas de milhares em centenas de cidades médias e pequenas por todos os EUA.

As mobilizações superaram em dois milhões de pessoas os protestos de junho deste ano, também convocados pelo movimento No Kings, demonstrando a enorme raiva acumulada contra o governo Trump.

Nestes meses, Trump lançou o ICE contra os imigrantes nos bairros de classe trabalhadora das grandes cidades estado-unidenses, convertendo-o no seu batalhão de choque contra a classe trabalhadora e a esquerda, como faziam os nazis com as SS. Impulsionou, com ainda mais vigor se possível, o genocídio em Gaza, apresentando um plano de “paz” farsesco para o culminar e ameaça com novas agressões imperialistas, como vemos agora com a Venezuela. Também aprovou um orçamento que dará milhares de milhões de dólares a Wall Street e aos seus amigos multimilionários, ao mesmo tempo que corta massivamente os já muito depauperados serviços sociais. Agora, ameaça ainda o encerramento do governo, o que já fez com que 900.000 funcionários federais tivessem de tirar licença e que outros 700.000 estejam a trabalhar sem receber.

Mas toda esta ofensiva está a ter uma resposta cada vez mais contundente e radicalizada desde baixo e mediante a ação direta, expulsando o ICE dos bairros através de mobilizações massivas, como acaba de acontecer em Nova Iorque; defendendo imigrantes agredidos por agentes do ICE encapuzados e obrigando-os a retirar-se sem poderem levar a cabo detenções; ou saindo às ruas uma e outra vez contra o genocídio sionista e em solidariedade com o povo palestiniano. A rebelião contra o trumpismo cresce e radicaliza-se.

É evidente que Trump e os seus aliados, entre os quais se encontram alguns dos magnates mais importantes de Silicon Valley e Wall Street, estabeleceriam, se pudessem, uma ditadura fascista, ilegalizando sindicatos e perseguindo a esquerda e o ativismo social. De facto, já estão a dar passos nesse sentido. Mas, por agora, como demonstrou esta mobilização, a crescente resposta contra o ICE ou a luta pela Palestina, a força da classe trabalhadora e da juventude não o permite.

Os protestos denunciaram o caráter abertamente ditatorial do governo de Trump, fazendo paralelos com o domínio monárquico britânico sobre as colónias. Milhões de pessoas desfilaram com cartazes contra o presidente, contra o fascismo, contra o encerramento do governo, em defesa do feminismo e da comunidade LGTBI+, ou contra o genocídio em Gaza e em solidariedade com o povo palestiniano, apesar de alguns setores do Partido Democrata terem tentado impedi-lo.

Mas uma parte muito significativa dos participantes não se manifesta apenas contra um indivíduo, contra Trump, ou contra o Partido Republicano, como tentam vender os dirigentes Democratas, mas sim contra todo o sistema, o capitalismo, que condena milhões à miséria, à precariedade, à repressão e ao mais atroz militarismo.

Após os nossos irmãos imigrantes, a mira está na esquerda antifascista

O porta-voz da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, numa clara provocação dias antes destes protestos massivos, afirmou que eram protagonizados por “inimigos dos EUA”, colocando na mira o direito a manifestar-se e a própria liberdade de expressão.

Como temos explicado, o principal objetivo de Trump e do seu governo é a guerra contra o “inimigo interno”, começando pelos imigrantes, mas continuando com todos aqueles que lhe fazem frente, desde o movimento antifascista até ao movimento dos trabalhadores e sindical, o movimento feminista e a esquerda combativa.

E assim o colocou em cima da mesa um mês antes dos protestos o próprio Trump e a Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, que chegou a dizer que o que estão a fazer agora nas costas da Venezuela, com assassinatos extrajudiciais, poderiam vir a fazê-lo em solo estado-unidense contra este “inimigo interno”.

A própria Administração Trump já aprovou uma Ordem Executiva “contra o Terrorismo Doméstico e a Violência Política Organizada”, que visa organizações e indivíduos que tenham atitudes “anticristãs” ou “anticapitalistas”. Aqui vemos a concretização do anúncio de Trump de ilegalizar a Antifa, que a partir de alguns meios de comunicação se considera uma simples ocorrência, mas que constitui uma ameaça muito real.

O Partido Democrata é parte do problema

Estas mobilizações, impulsionadas formalmente pela Plataforma No Kings, agruparam ONGs, organizações de direitos civis e de direitos humanos, e muitas outras associações e coletivos sociais. Também as impulsionaram organizações de esquerda combativas ou sindicatos, especialmente os de trabalhadores públicos perante o encerramento da Administração federal.

Também fazem parte das mesmas, através de uma miríade de entidades, o próprio establishment Democrata, entre os quais se encontram o governador da Califórnia ou a presidente da câmara de Los Angeles, que não hesitaram, após criticarem o envio da Guarda Nacional por Trump para Los Angeles, em enviar as suas próprias forças policiais para reprimir os protestos ou estabelecer o toque de recolher no centro da cidade. Também não hesitaram 75 congressistas Democratas em aprovar, no passado mês de junho, uma resolução de apoio à política de deportações de Trump, na qual, além disso, se agradecia “aos agentes da lei, incluindo o pessoal do ICE, por proteger a pátria”. Sim, este é o nível!

E, claro, continuaram a apoiar o Estado genocida de Israel, como já fizeram sob a presidência de Biden, e muitos dos seus congressistas e senadores recebem doações massivas do lobby sionista AIPAC, apesar das denúncias de milhares de ativistas.

A realidade é que grande parte dos dirigentes Democratas está completamente desacreditada, incapaz de enfrentar a perigosa ofensiva autoritária do trumpismo. E por isso mesmo precisamos tirar lições sobre o que serve e o que não serve na luta contra Trump e o fascismo.

Pela greve geral! É preciso levantar uma alternativa revolucionária!

Sem dúvida, esta mobilização, ou os levantamentos contra o ICE em cidades e bairros de classe trabalhadora, demonstram a enorme força que conserva o movimento de massas e a classe trabalhadora estado-unidense, e que a batalha contra Trump está muito aberta. Mas é necessário dar passos em frente que nunca serão impulsionados pelo aparelho Democrata, capitalista, corrupto e que asfaltou com as suas políticas a vitória de Donald Trump.

A pressão nesse sentido é clara. Nos dias prévios e nas próprias manifestações, a palavra de ordem da greve geral para derrubar o Governo Trump popularizou-se, fazendo eco da mesma o presidente da câmara de Chicago, Brandon Johnson, que, embora se tenha apresentado pelo Partido Democrata, foi um dos líderes das bem-sucedidas e duríssimas greves de professores de 2011.

Infelizmente, Bernie Sanders, que falou como um dos oradores principais na manifestação de Washington D.C., e que ainda conserva autoridade entre amplos setores do movimento, recusou emitir uma única crítica ao Partido Democrata, e limitou-se a assinalar de forma abstrata a necessidade de o povo resistir à deriva autoritária de Trump, ao mesmo tempo que chamava os Republicanos a negociar os orçamentos! Pode ser-se mais ingénuo? Quer negociar com os mesmos que diz quererem destruir a “democracia americana”? Mas que sentido tem isto?

A ameaça do trumpismo não é nenhuma brincadeira. Por isso mesmo, não se pode enfrentar esta ameaça com discursos e apelos genéricos à resistência do povo. Com a sua completa inação, quando não a sua colaboração direta — por exemplo, nas rusgas racistas do ICE —, fortalecem o discurso trumpista e os seus acólitos. E quando enfrentam, reduzem a sua batalha a denunciar as medidas de Trump nos tribunais. Uns tribunais, como o Supremo, que também estão dominados por elementos de extrema-direita e que, chegado o momento, servirão fielmente o seu amo.

A batalha contra o trumpismo requer passos concretos para desdobrar e demonstrar a enorme força do movimento da classe trabalhadora. Para isso é preciso levantar, como já se está a fazer desde baixo, a palavra de ordem da greve geral. Uma greve geral para proteger os nossos irmãos e irmãs imigrantes, para combater a precariedade laboral, para enfrentar os cortes sociais e para travar o esbanjamento militarista que apenas serve para massacrar outros povos, como o de Gaza.

Uma greve geral que também coloque na ordem do dia a batalha contra o capitalismo, a expropriação desses grandes monopólios e bancos que estão a encher os bolsos com as políticas criminosas de Trump à custa da miséria e da barbárie de milhões de trabalhadores dentro e fora das fronteiras estado-unidenses.

Precisamos de construir uma alternativa revolucionária que nasça do próprio movimento, de baixo, mediante a ação direta, a luta de massas e que defenda consequentemente um programa socialista. A mobilização No Kings, em solidariedade com o povo palestiniano, ou a resistência combativa e massiva contra as rusgas do ICE apontam o caminho. São novos marcos na organização deste movimento, do qual emergirão os dirigentes e as organizações capazes de enfrentar a ameaça fascista e acabar com a barbárie capitalista. Não há tempo a perder!

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