O contexto internacional

Por todo o globo avança a luta dos trabalhadores. Além da Grécia e da Catalunha na Europa, os condenados da terra erguem-se no mundo dito “em desenvolvimento”.

Toda a América Latina se ergue — Brasil, México, Nicarágua, Costa Rica, Porto Rico, Honduras, Argentina… Em África, o capitalismo vê-se em perigo de morte no Sudão e na Argélia, com duas revoluções que vão reverberar por todo o continente. Na Ásia, a gigantesca Índia vive em convulsões constantes, Hong Kong é palco de protestos absolutamente colossais por direitos democráticos que ameaçam agitar toda a China.

As burguesias imperialistas dos EUA e da China disputam o mercado mundial e, nisto, desestabilizam cada vez mais as relações internacionais. As contradições inter e intra-burguesas na UE acirram-se, com o seu ponto mais alto no Reino Unido, onde o Brexit divide a burguesia e ameaça dividir o próprio Estado em dois. Tudo isto enquanto uma nova grande recessão dá os primeiros sinais da sua chegada.

É neste contexto internacional que se realizam legislativas em Portugal. E também aqui, contra todas as tradições do sindicalismo de conciliação, a classe trabalhadora dá os primeiros passos na sua reorganização — tentando ultrapassar as actuais direcções — e a juventude sai à rua contra a violência machista, contra o racismo, contra a destruição do planeta, enfim, contra toda as chagas do capitalismo.

A divisão da esquerda é a força do PS

A utilização da Requisição Civil contra os enfermeiros foi, como alertámos, um momento de inflexão. O posterior ataque às greves e ao sindicato dos motoristas de matérias perigosas, não só confirmou esta perspectiva como demonstrou que resposta tem o PS à luta: estabelecer “serviços mínimos” que, citando o próprio Primeiro Ministro “podem equivaler aos máximos”, mobilizar o exército para furar greves ao serviço de empresas privadas, forçar grevistas a trabalhar sob ameaça de prisão, ordenar a dissolução de sindicatos, enfim, esmagar a classe trabalhadora.

A tarefa que cabe à esquerda é a de combater estas políticas do PS. O que temos, pelo contrário, é BE e PCP a funcionar como estabilizadores do regime e a garantir a conciliação de classes, com a inacção do BE e o apoio vergonhoso das direcções do PCP e da CGTP aos ataques contra o direito à greve — acusando os próprios trabalhadores de estar a colocar o seu direito em causa!

Com tudo isto, a direcção do PCP perdeu apoio entre eleitores e mesmo entre militantes do partido. Contudo, até o BE, que foi capaz de evitar este desgaste durante a maior parte da legislatura, tem dificuldade em posicionar-se como uma força alternativa de governo. Ao continuar divididos com sectarismo e seguindo a actual política, nem BE nem PCP se apresentam como a alternativa de esquerda ao programa de Costa que lhes cabe ser, e muito menos como instrumentos de combate e de transformação social aos olhos da maioria da classe trabalhadora e da juventude.

É nesta divisão e “moderação” da esquerda está a explicação para o crescimento eleitoral do PS, e não nos pequenos ganhos e medidas cosméticas dos últimos quatro anos. Os passes sociais já se encontram ameaçados e só aprofundaram a crise dos transportes; a farsa do PREVPAP mal tocou na precariedade do Estado; os manuais escolares não são “gratuitos”, são pagos em rendas ao privado e estão à mercê dos seus caprichos. No final de contas, foram quatro anos de manutenção da austeridade com resgates à banca privada, redução do investimento público, crise de habitação, uma centena de mortes em incêndios florestais, ataques inauditos contra o direito à greve e todas as restantes políticas de direita. Ainda assim, o PS cresce!

PSD e CDS, por agora, estão felizmente em ruínas. Não conseguem prometer nada melhor do que o programa de Costa à sua própria base eleitoral — a burguesia e sectores mais reaccionários da pequena-burguesia —, nem têm hipóteses de seduzir qualquer sector significativo da classe trabalhadora com a actual polarização social e a viragem à esquerda da juventude. Mas a direita não ficará em ruínas para sempre. A continuação da conciliação de classes vai criando as condições para o surgimento da extrema-direita.

Por uma frente unida!

Com o contexto internacional acima esboçado, com um horizonte de choque violento entre as classes numa nova recessão, com cada vez maior polarização social e com o Partido “Socialista” e todos os órgãos do Estado a revelar-se uma fachada democrática da ditadura do capital, há uma camada crescente da juventude trabalhadora que busca soluções para os seus problemas fora do capitalismo, que busca ideias revolucionárias.

As legislativas são uma gigantesca oportunidade para levantar uma frente unida da esquerda, uma proposta de governo dos trabalhadores com um programa socialista, uma bandeira de luta pela transformação radical da sociedade que proponha a nacionalização da banca e dos sectores chave da economia, a transição energética, um programa de pleno emprego, um programa de habitação social e controlo de rendas, entre outras medidas a conquistar com a mobilização dos trabalhadores e da juventude. A nossa convicção é que tal programa encontraria um apoio massivo e seria um instrumento valioso para a organização nos locais de trabalho e escolas — aquilo que, para os marxistas, é a grande utilidade da participação em eleições burguesas.

Vota na esquerda e organiza-te!

No dia 6 de Outubro, o voto correcto só poderá ser um voto de esquerda contra o PS. Há que impedir Costa de ter maioria absoluta e, pelo caminho, conquistar um parlamento mais permeável à pressão dos trabalhadores e da juventude.

Mas independentemente destas eleições, nada pode travar o ascenso da luta de classes. Ao proletariado, e especialmente à nova geração, resta apenas lutar. Nesse processo de luta, teremos vitórias e derrotas, avanços e recuos, e só assim poderemos forjar uma direcção política revolucionária, um Estado Maior da nossa classe à altura da tarefa histórica que se impõe: libertar de uma vez por todas a humanidade da exploração e da opressão capitalistas.

Viva a luta da classe trabalhadora e da juventude!

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