A 10 de dezembro, teve lugar em Oslo uma das cerimónias de entrega do Prémio Nobel da Paz mais grotescas da história recente. A galardoada não era nem mais nem menos do que a marioneta de extrema-direita venezuelana de Donald Trump, María Corina Machado.

Uma Nobel da Paz que apoia o genocídio e pede para invadir a Venezuela

Machado, uma sionista assumida, não hesitou em usar a concessão do Nobel para felicitar o seu amigo Netanyahu pelo holocausto contra o povo palestiniano. Nem a pedir, mais uma vez, como tem vindo a fazer há anos, por uma intervenção militar estado-unidense na Venezuela, semelhante às que arrasaram o Iraque, Afeganistão, Líbia ou Síria, deixando centenas de milhares de mortos.

O partido que ela fundou e lidera, Vente Venezuela, gaba-se no seu site de ser um partido afiliado ao Likud de Netanyahu. Antes de Trump chegar à Casa Branca para o seu segundo mandato, esta “democrata pacifista” enviou uma carta ao seu colega, líder do regime sionista de Israel, com o objetivo de usar a sua influência em Washington para promover uma intervenção militar contra a Venezuela.

img
Machado, uma sionista assumida, não hesitou em usar a concessão do Nobel para felicitar o seu amigo Netanyahu pelo holocausto contra o povo palestiniano

No seu discurso, Machado agradeceu “as ações decisivas” do seu patrão Donald Trump ao longo dos últimos meses. Esse eufemismo refere-se ao assassinato extrajudicial de 83 trabalhadores indefesos que viajavam em mais de 20 barcos de pesca destruídos pela frota militar enviada por Trump para as Caraíbas (assediando a costa venezuelana desde agosto) e as sanções económicas e cerco militar que asfixiam milhões de famílias trabalhadoras na Venezuela.

A atribuição do Nobel da Paz a esta marioneta criminosa do presidente dos EUA foi recebida com um apelo a uma manifestação de protesto por várias associações pacifistas norueguesas e declarações de rejeição por todo o mundo. Além disso, o Conselho Norueguês da Paz, no qual integram coletivos que organizam a procissão com tochas que acompanha tradicionalmente os laureados deste prémio, recusou participar este ano. Para evitar que este boicote ganhasse visibilidade internacional, as autoridades noruguesas recrutaram a membros da extrema-direita venezuelana para levar as tochas.

É claro que os grandes meios de comunicação, incluindo alguns autodenominados progressistas como o El País, preferem ocultar estes factos e as ideias fascizantes, sionistas e militaristas de Machado, continuando a apresenta-la como uma “lutadora pela paz e pela democracia”. Que a verdade não estrague uma bela história!

Sobretudo se essa história convier à estratégia do imperialismo estado-unidense e ocidental para justificar uma intervenção militar na Venezuela, país com as maiores reservas comprovadas de petróleo do planeta e aliado estratégico da China e Rússia numa região que Washington considera sua.

De oligarca golpista a “democrata”

María Corina Machado é oriunda de uma família da mais râncida oligarquia venezuelana. Começou a sua carreira como uma de 400 empresários, militares e figuras de direita e extrema-direita que assinaram o Decreto Carmona (em referência ao presidente da federação patronal). Este decreto consagrava o golpe de Estado de 11 de abril de 2022, que derrocou durante 48 hora o presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez, e o tentou assassinar.

Entre outras medidas, este decreto golpista, assinado por Machado e outros conhecidos “democratas” venezuelanos anulava a Constituição aprovada três anos antes pelo povo com 80% de votos favoráveis, dissolvia o Parlamento, designava a dedo como presidente o líder da patronal Fedecámaras, Pedro Carmona Estanga, e ordenava a perseguição de ativistas e militantes de esquerda.

O golpe, que custou várias vidas por ação de atiradores de extrema-direita, foi derrotado pelo levantamento revolucionário de milhões de jovens e trabalhadores. O povo tomou as ruas, cercou os quartéis e o Palácio de Miraflores, devolvendo ao poder Chávez, o presidente que tinham eleito.

img
Os grandes meios de comunicação preferem ocultar estes factos e as ideias fascizantes, sionistas e militaristas de Machado, continuando a apresentá-la como uma “lutadora pela paz e pela democracia”. Que a verdade não estrague uma bela história!

Após essa derrota, Machado esteve na linha da frente de todas as tentativas golpistas e terroristas que a Venezuela sofreu nos últimos 23 anos. Como fundadora da ONG Súmate, financiada pelo Fundo Nacional para a Democracia (um dos tentáculos da CIA para intervir contra governos que não controla), e como líder do partido Vente Venezeual, tem sido uma das principais figuras responsáveis pelas chamadas “guarimbas”.

Na Venezuela, este termo refere-se às diferentes ondas de ações violentas e mesmo terroristas em que gangues fascistas atacaram com cocktails molotov e armas de fogo militantes chavistas, locais de trabalho e escolas que consideravam associados ao processo revolucionário bolivariano, e sedes de sindicatos e partidos de esquerda. Contando as várias “guarimbas”, somam-se mais de uma centena de vítimas mortais.

Falando de paz, preparam-se para a guerra

Esta não é a primeira vez que o Nobel da Paz é usado para lavar a cara ao imperialismo estado-unidense e as suas marionetas de extrema-direita, com o propósito de apresentar perante a opinião pública intervenções militares, guerras e golpes de Estado, que resultam em autênticos massacres, em “defesas da paz e das liberdades”.

O nível de cinismo e descaramento que rodeia este prémio não é propriamente baixo. Antes de María Corina Machado, foi atribuído a figuras como Henry Kissinger, precisamente em 1973, o mesmo ano em que se organizava o golpe de Estado que massacrou dezenas de milhares de ativistas de esquerda no Chile. Kissinger foi também o cérebro por detrás de diferentes guerras no Médio Oriente para manter o petróleo nas mãos das multinacionais estadunidenses.

Outros laureados com o Nobel da Paz foram líderes militares e políticos sionistas diretamente responsáveis pelas políticas de limpeza étnica contra o povo palestiniano, como Yitzhak Rabin e Shimon Peres.

A atribuição deste prémio a Machado insere-se na preparação de um ataque militar estado-unidense em território venezuelano, que Trump tem vindo a anunciar há semanas. Violando todos os direitos e normas internacionais, o presidente dos EUA ordenou o encerramento do espaço aéreo de um país soberano como a Venezuela. E as principais companhias aéreas, com aprovação dos governos europeus e de outros países, cumpriaram as ordens sem questionar, suspendendo os voos de passageiros e de mercadorias.

img
A atribuição deste prémio a Machado insere-se na preparação de um ataque militar estado-unidense em território venezuelano, que Trump tem vindo a anunciar há semanas.

Como parte da mesma estratégia, o exército estado-unidense apreendeu esta semana um navio carregado com petróleo venezuelano (a principal fonte de rendimentos do país), ficando com o carregamento. Como é explicado na declaração da Izquierda Revolucionaria da Venezuela[6], a estratégia de Trump para retirar o país da órbita do bloco imperialista rival formado pela China e Rússia e instalar em Miraflores a sua marioneta, a recém-premiada Nobel da Paz Machado, passa por asfixiar economicamente a população, semear o caos e o pânico e provocar ações violentas, criando assim uma brecha na cúpula militar que até agora se manteve unida com Maduro.

As ameaças de Trump contra a Venezuela contam com uma oposição massiva entre a população estado-unidense. Mais de 70% rejeita-a, segunda uma sondagem da CBS. Uma intervenção militar poderia provocar um levantamento massivo contra o imperialismo ianque na Venezuela e por todo o continente.

Por outro lado, uma vitória na Venezuela representaria um impulso significativo para a estratégia de Trump de recuperar terreno contra os avanços da China e da Rússia, e reforçaria a mensagem intimidatória que tenta passar ao mundo. A concessão do Nobel da Paz a Machado e as medidas que apertam ainda mais o cerco económico e militar sobre a Venezuela representam novos passos na intervenção imperialista.

O único caminho para derrotar a ofensiva militar de Trump na Venezuela e por toda a América Latina é a mobilização revolucionária das massas para lutar por uma genuína revolução socialista.

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

GREVE GERAL

Lista artigos e atividades Greve Geral

Sindicato de Estudantes

Os cookies facilitam o fornecimento dos nossos serviços. Ao usares estes serviços, estás a permitir-nos usar cookies.