A 30 de Abril deu-se a mais recente tentativa de golpe de Estado na Venezuela, encabeçada uma vez mais por Juan Guaidó e Leopoldo López, membros do partido de extrema-direita Voluntad Popular. Com a ajuda de poucas dezenas de militares, Guaidó libertou López da prisão domiciliária e ocupou a pequena base aérea La Carlota. O apoio interno ao golpe limitou-se ao responsável da inteligência militar (SEBIN) e a mais um punhado de altas patentes. Apesar do assédio dos serviços secretos estado-unidenses, o apoio do exército foi tão pouco expressivo que tiveram de enganar soldados a participar no golpe. Estes, assim que se aperceberam do objectivo da operação, prontamente abandonaram os seus postos. O apelo ao “povo” para que “tomasse as ruas” foi igualmente ignorado.

O governo português continua do lado dos golpistas, reconhece Guaidó e participa nas sanções retendo mais de 1500M€ do Estado Venezuelano no Novo Banco. À esquerda, a direcção do BE “condena a ingerência máxima de Trump e seus aliados na Venezuela” mas pede que se ouçam “os apelos do secretário-geral das Nações Unidas, (...) do Papa Francisco e de vários líderes democráticos da América Latina”, figuras que fazem o jogo do imperialismo estado-unidense ao pedir a Maduro um acordo com a reacção! Este acordo apoiado pelo BE não é mais do que a rendição à extrema-direita.

Guaidó ao serviço do imperialismo

Esta é a mesma extrema-direita responsável por dezenas de mortos e feridos nas guarimbas de 2014 e 2017 — razão pela qual López foi condenado a 14 anos de prisão —, que pede aos EUA mais sanções económicas — principais responsáveis por um aumento de 31% na taxa de mortalidade na Venezuela entre 2017 e 2018 segundo um relatório do Center for Economic and Policy Research — e intervenções militares no seu próprio país. Educados em universidades estado-unidenses, Guaidó e López têm o mesmo projecto de privatizações e precarização levado a cabo por “líderes democráticos” como Bolsonaro.

Apesar disto, a burguesia, através de uma gigantesca campanha de desinformação, tenta retratar Guaidó e López como “defensores da democracia”. O grande capital dos meios de comunicação social transformou uma tentativa da CIA a 23 de Fevereiro de lhes entregar armas e dinheiro em “ajuda humanitária” e retratou agora o golpe de 30 de Abril como tendo o “apoio maioritário do exército” quando, na verdade, apenas teve o apoio de poucas dezenas de militares.

O papel de Maduro e do PSUV na crise

O governo de Maduro é o governo da burocracia do PSUV que se consolidou nos últimos anos do governo de Chávez precisamente porque a revolução não avançou até à tomada do poder pela classe operária, mantendo o carácter burguês do Estado apesar das incríveis vitórias dos trabalhadores e camponeses — a instauração do controlo operário numa série de fábricas e empresas, o início da reforma agrária, a criação de uma nova central sindical (a UNT) e a formação do PSUV como um partido da classe trabalhadora. Chávez, que apoiou as expropriações e o controlo operário uma vez iniciado este processo pela força e iniciativa dos trabalhadores e camponeses, nunca deixou, no entanto, de vacilar entre o reformismo e a revolução, nunca se constituiu como um dirigente marxista e revolucionário. Pelo contrário, Chávez caiu cada vez mais sob a influência de defensores de uma “economia mista” e de reformistas da laia de Juan Carlos Monedero, e procurou forças não na classe operária e na revolução socialista internacional, mas antes na exploração das tensões entre burguesias imperialistas e em alianças internacionais com chefes de Estados. Após a sua morte, Maduro fixou este rumo.

O actual governo privatizou empresas expropriadas, abriu para exploração privada partes do Arco Mineiro do Orinoco e vendeu acções da PDVSA a capital imperialista, muito dele chinês e russo. Por agora, esta estratégia serve para manter o governo em funções com apoio da China e da Rússia, e para comprar a lealdade do exército, mas não resolve nenhuma das contradições fatais que a crise capitalista coloca, só adia a sua resolução. Pior ainda, esta estratégia da burocracia é a maior garantia de desmoralização e crescente apatia das massas, traídas pelas suas direcções enquanto enfrentam a fome e a pobreza numa economia totalmente dependente do petróleo e afundada na mais profunda crise.

Só a classe trabalhadora tem a solução

A única saída da crise é a revolução. Os revolucionários devem fomentar a formação de comités nas fábricas, locais de estudo e bairros não só contra o golpe mas por acções concretas de expropriação e controlo operário das empresas, ultrapassando a burocracia inútil do PSUV. Este é o caminho para concluir o que a revolução bolivariana iniciou!

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