Este ano letivo abre com o menor número de estudantes a entrar nas universidades portuguesas desde 2016. Em relação ao ano anterior, houve uma quebra de 16% nas candidaturas, caindo quase em 10 mil, e de 12% nas colocações, menos 6 mil do que em 2024. O número de vagas deixadas por ocupar duplicou, subindo para 11 mil.

É uma queda estrondosa de entradas, e que a comunicação social foi rápida a atribuir às alterações do regime de acesso, ou nos maus resultados dos exames. Aponta-se também para a queda demográfica e para a emigração, mas nenhuma destas consegue explicar uma queda abrupta como esta.

De facto, os únicos indicadores socioeconómicos que crescem de forma tão explosiva quanto decresce o acesso ao ensino superior são os do custo de vida, em particular entre a juventude. Os preços da habitação estão a aumentar a uma taxa média anual acima de 10%, e o custo de vida aumenta também a um ritmo galopante.

Nestas condições, em que sobreviver exige cada vez mais das nossas famílias, o ensino superior torna-se inacessível a cada vez mais jovens de classe trabalhadora. Os custos de vida, em particular os custos de habitação, simplesmente não o permitem.

Um governo que ataca a Juventude

O governo da AD, longe de oferecer soluções, exacerba os problemas. O descongelamento das propinas é um ataque à juventude, e à universalidade do ensino superior. Este não é apenas um aumento de 13 euros: é a continuação de um projeto, liderado pela direita, para privatizar o ensino superior e limitá-lo a uma elite cada vez mais reduzida.

O descongelamento sem limites à subida nas propinas de mestrado demonstra o propósito dessa política. Deixar os mestrados ainda mais inacessíveis aos jovens de classe trabalhadora é garantir que uma série de profissões (engenheiros, médicos, etc.) se mantém um monopólio dos filhos da burguesia, e também que a progressão na carreira lhes continue facilitada, enquanto que a juventude de classe trabalhadora fica condenada à estagnação, à precariedade, e ao desemprego.

É para esta camada de privilegiados que Montenegro governa. Os seus pacotes de medidas para a juventude, como o IRS Jovem e os apoios à compra de casa, beneficiam apenas uma fina camada de jovens para quem as poupanças nos impostos sejam relevantes, e que já ganhe o suficiente para satisfazer a taxa de esforço para comprar casa. Para a juventude de classe trabalhadora, tudo o que o governo tem para nos dar é cortes e degradação.

Nada podemos esperar deste governo senão mais ataques e mais feroz exploração. E nada deve este governo esperar de nós senão uma tão feroz resistência.

A única solução é a organização!

Para quem cresceu durante a crise de 2008, e a austeridade que se seguiu, vimos a vida a tornar-se pior e mais difícil, as nossas comunidades a desagregarem-se, os nossos orçamentos a limitarem-se, e as nossas perspetivas a turvarem-se, sem as coisas alguma vez voltarem a tornar-se melhor. Somos a primeira geração desde que há memória que vive pior do que a dos nossos pais.

A crise sentida pela nossa geração transcende fronteiras. Até a emigração deixa de ser uma solução viável para os nossos problemas. Um pouco por todo o mundo, repetem-se os mesmos dilemas de que nos queixamos: a educação superior a ser desinvestida, privatizada e tornada inacessível, os custos de habitação e de vida a subirem a um ritmo que os salários simplesmente não têm como acompanhar. E isto vem acompanhado com uma dura perseguição e exploração aos trabalhadores imigrantes.

É uma crise sistémica, uma crise do modo de produção capitalista, que vê as suas contradições a ramificarem-se, e que, no seu desespero, não consegue senão atacar. E isso significa que, qualquer que seja o governo que esteja no poder, enquanto for um governo que não quebre com a lógica capitalista, será necessariamente um governo de cortes, de degradação e de ataques. Qualquer que seja o seu programa, nunca será capaz de nos apresentar soluções para os nossos problemas.

Se queremos soluções para os nossos problemas, teremos de ser nós a criá-las. Se queremos um futuro, teremos de o construir. Se queremos ter casas onde viver, escolas onde estudar, e salários dignos, temos de lutar por estes. E essa luta terá de ser feita nas ruas, coletivamente.

Nesse sentido, o esforço da campanha “Ninguém Fica Para Trás! Gratuitidade Já!”, que une associações de estudantes e outras organizações estudantis contra os aumentos das propinas e a privatização do ensino, são valorosos, e têm de ser reforçados. A nossa unidade será uma arma poderosíssima na luta contra esta exploração.

É verdade que, por todo o mundo, a juventude de classe trabalhadora tem sofrido ataques cada vez mais severos. Estamos na primeira linha da pilhagem capitalista ao Estado social. Mas isso significa também que estamos na linha da frente da revolta contra esta exploração. Por todo o mundo, a juventude de classe trabalhadora tem liderado grandes levantamentos contra os regimes e contra a exploração capitalista.

Mas para que a revolta da juventude resulte em conquistas para o nosso futuro, não nos basta erguermo-nos esporadicamente: temos de nos organizar. Temos de construir direções capazes de levar a cabo o trabalho de luta todos os dias, de montar um programa que reflita as nossas ambições, e de ganhar a confiança de mais e mais jovens, para aumentar os nossos números nas mobilizações. Temos de construir a organização dos estudantes e o partido revolucionário.

Na Esquerda Revolucionária, organizamo-nos para construir essa organização. No Estado Espanhol, a nossa frente estudantil, o Sindicato de Estudantes, consegue liderar greves estudantis massivas, com centenas de milhares de estudantes contra a privatização do ensino, contra violência machista e racista, contra a degradação da qualidade de vida, e por todas as demais causas pelas quais a juventude de classe trabalhadora quer lutar. É uma força que faz tremer qualquer governo, e uma organização que multiplica a força dos nossos números.

Nós queremos construir uma força como essas em Portugal. Uma força que consiga liderar o movimento estudantil que, nos últimos anos, se provou uma das maiores forças de resistência em Portugal e que, organizado, se provará ainda mais poderoso e combativo.

Para construíres tal força, junta-te a nós!

JORNAL DA ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA

JORNAL DA LIVRES E COMBATIVAS

Sindicato de Estudantes